
Não sei o que aconteceu para o desaparecimento dos testes. Talvez eu não abra mais revistas. Mas eles deixaram saudades. Uma série de perguntas e, sem muito esforço, você tinha resposta para questões existenciais que, de outra forma, poderiam arrastar sua mente para o submundo da psique, do qual dificilmente se volta, Chapeleiro Maluco que o diga. Com a vantagem que, ao fim, ainda havia umas sugestões para você melhor seu comportamento e se sair melhor no tête-à-tête da interação social. Por exemplo, se no teste para se qualificar como personagem da Disney, a vítima fosse eleita o Pateta, seguiria uma dica do tipo “Tente parecer menos idiota quando ri e evite a companhia de ratos que falam”. Sempre algo extremamente objetivo, de aplicabilidade imediata.
Todavia, a necessária simplicidade dos testes de personalidade não combinava com um apurado sistema de pesos e contrapesos na avaliação pelos caminhos marginais do auto conhecimento. E, como sempre há aquelas pessoas apaixonantes, que se dizem inclassificáveis, complexas, profundas e difíceis de agarrar, não raro acontecia um empate. Nesta hipótese, o leitor poderia ser classificado ao mesmo tempo como Brontossauro e Pterodátilo (“Qual dinossauro você é?”). Algo frustrante para quem mergulhou em seu interior na busca do seu próprio EU. Por outro lado, um exercício de imaginação, no mínimo, curioso.
Sei que o leitor super intelectualizado e moderno que habita a Internet pode torcer o seu nariz digital para um sistema tão antigo. Mas é inegável que os tais testes de personalidade cumpriram uma papel fundamental de autodescoberta, para adolescentes de quinze anos, pacientes entediados em consultórios médicos e fãs de quadrinhos com aspirações a super-heróis. Sem eles, dificilmente teríamos por aí tantas reencarnações de ciganos, Cleópatra e gladiadores (“Quem você foi na última encarnação?”). E mais. O Facebook perderia metade de seus aplicativos.
P.S.: Não achei nenhuma figura de um Brontossauro misturado com Pterodátilo para ilustrar o texto. Mas a imagem me persegue há dias. Não sei mais o que fazer. Cada vez que olho para cima, enxergo a criatura passando, com suas asas membranosas. Infelizmente minha habilidade como desenhista não ultrapassa bonequinhos de palitos, que ficam tortos. Assim, não posso transcrever no papel minha visão.
Então, se um leitor talentoso se habilitar, pode mandar o desenho, criado a partir de sua imaginação. Assim, pelo menos, poderei dividir meu transtorno com a coletividade. Se não ameniza, ao menos consola.